A narração
Toda narrativa tem um narrador: aquele que conta a
história. O narrador pode ser de dois tipos: narrador de 1ª ou 3ª pessoa.
A narração, além de ser uma das mais importantes
possibilidades de linguagem, é também uma das práticas mais comuns de nossa
vida. A narração associa nossa observação do mundo com nossa existência, nossa
memória e nossa imaginação.
Elementos básicos da
narrativa
Narrativa-enredo(acontecimentos reais e/ou imaginários) +
personagens(quem vive os acontecimentos).
Narrador-quem narra os acontecimentos.
Veja como podemos reconhecer os elementos básicos da
narrativa:
O que aconteceu? Acontecimento, fato, situação.
Com quem? Personagem(ns).
Onde? Quando? Como? Espaço, tempo, modo.
Quem está contando? Narrador em 1ª ou 3ª pessoa.
A construção do
enredo
Enredo é a
sequência de acontecimentos da história. Toda narrativa tem um enredo: o que
aconteceu e como aconteceu. O desenvolvimento do enredo é organizado em função
de um conflito entre a personagem
principal e forças adversárias a ela, pela luta da personagem para realizar
seus desejos, projetos, sonhos e objetivos.
A história apresenta um conflito entre o(s) protagonista(s) e os elementos
opositores, entre os quais encontramos, muitas vezes, as personagens adversárias ou antagonistas.
Exemplos: herói x vilão, mocinho x bandido.
No entanto, há enumeráveis formas de conflitos. De um modo
geral, a personagem está em luta com antagonistas, ou com o mundo, ou com o seu
destino, ou consigo mesma. O desenrolar do enredo dá-se pela apresentação e
desenvolvimento desse conflito, que se intensifica até o clímax, para se
solucionar apenas no desfecho da história.
Partes do enredo
1. Exposição: situa-se no começo da
história, quando em geral se apresentam os personagens, o conflito, o espaço e
o tempo em que ocorre a ação.
2. Complicação: corresponde à parte do
enredo em que se desenvolve(m) o(s) conflito(s).
3. Clímax: é o momento de maior tensão
do(s) conflito(s).
4. Desfecho: é a solução do(s)
conflitos(s).
Narrador:
a voz que conta história
Narrador
de um texto ficcional não é o autor. É uma voz imaginária, escolhida pelo
autor de acordo com o tipo de história a ser elaborada.
Podemos distinguir três tipos de narrador:
Narrador-personagem,
narrador-observador e narrador-onisciente.
Foco narrativo em 1ª
pessoa
O narrador-personagem conta na 1ª pessoa a
história da qual participa também como personagem.
Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer. Ao mesmo tempo, essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.
Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer. Ao mesmo tempo, essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.
Foco narrativo em 3ª
pessoa
O narrador-observador conta a história do
lado de fora, na 3ª pessoa, sem participar das ações. Ele conhece todos os
fatos e, por não participar deles, narra com certa neutralidade, apresenta os
fatos e os personagens com imparcialidade. Não tem conhecimento íntimo dos
personagens nem das ações vivenciadas.
O narrador-onisciente conta a história em
3ª pessoa e, às vezes, permite certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Ele
conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no íntimo
das personagens, conhece suas emoções e pensamentos.
Ele é capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência, em 1ª pessoa. Quando isso acontece, o narrador faz uso do discurso indireto livre.
Ele é capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência, em 1ª pessoa. Quando isso acontece, o narrador faz uso do discurso indireto livre.
Enredo linear e
enredo não linear
O enredo é linear quando as personagens, o tempo e o espaço são
apresentados de maneira lógica e as ações e situações desenvolvem-se cronologicamente, atribuindo à
narrativa um começo, meio e fim.
Já o enredo não
linear, como o próprio nome revela, desenvolve-se descontinuamente, com
saltos, com cortes, com vaivens na sequência da história, com retrospectivas
e/ou antecipações e com rupturas do tempo e do espaço em que se desenvolve a
ação. O tempo cronológico, dos relógios, mistura-se ao psicológico, da duração
das vivências das personagens.
Exercício-Criação de
um enredo não linear.
Conte um sonho sem sequência lógica, daqueles que ficam por
muito tempo persistindo em nossa memória, apesar de sua estranheza e aparente
falta de lógica.
Personagens
Personagens
principais: protagonistas x antagonistas
Personagens
secundárias: auxiliares ou ajudantes (coadjuvantes)
Os tipos de discurso
Discurso direto: o narrador apresenta a própria
personagem falando diretamente, permitindo ao autor mostrar o que acontece em
lugar de simplesmente contar.
Lavador de carros, Juarez de Castro, 28 anos, ficou
desolado, apontando para os entulhos: “Alá
minha frigideira, alá meu escorredor de arroz. Minha lata de pegar água era
aquela. Ali meu outro tênis.”
Jornal do Brasil, 29 de
maio 1989.
Discurso indireto: o narrador interfere na fala da personagem. Ele conta aos leitores o que a personagem disse, mas conta em 3ª pessoa. As palavras da personagem não são reproduzidas, mas traduzidas na linguagem do narrador.
Dario vinha apressado, o guarda-chuva no braço esquerdo e,
assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede
de uma casa. Foi escorregando por ela, de costas, sentou-se na calçada, ainda
úmida da chuva, e descansou no chão o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no, indagando se não estava se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, mas não se ouviu resposta. Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque.
Dois ou três passantes rodearam-no, indagando se não estava se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, mas não se ouviu resposta. Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque.
Dalton Trevisan.
Cemitério de elefantes. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1964.
Civilização Brasileira, 1964.
Discurso indireto livre: é uma combinação dos dois anteriores, confundindo as intervenções do narrador com as dos personagens. É uma forma de narrar econômica e dinâmica, pois permite mostrar e contar os fatos a um só tempo.
Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se
pudesse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande!... Hei
de dar conta deste danisco... Se uma cobra picasse seu Soronho... Tem tanta
cascavel nos pastos... Tanta urutu, perto de casa... se uma onça comesse o carreiro,
de noite... Um onção grande, da pintada... Que raiva!...
Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção, escutando a conversa de boi Brilhante.
Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção, escutando a conversa de boi Brilhante.
Guimarães Rosa.
Sagarana. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1976.
José Olympio, 1976.
Tempo
Tempo cronológico:
dos relógios, objetivamente marcado.
Tempo psicológico:
da duração interior das vivências.
Espaço
Espaço exterior:
individual e social; pessoal e coletivo.
Espaço interior:
subjetivo, psicológico.
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