segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A narração



A narração
Toda narrativa tem um narrador: aquele que conta a história. O narrador pode ser de dois tipos: narrador de 1ª ou 3ª pessoa.
A narração, além de ser uma das mais importantes possibilidades de linguagem, é também uma das práticas mais comuns de nossa vida. A narração associa nossa observação do mundo com nossa existência, nossa memória e nossa imaginação.

Elementos básicos da narrativa
Narrativa-enredo(acontecimentos reais e/ou imaginários) + personagens(quem vive os acontecimentos).
Narrador-quem narra os acontecimentos.

Veja como podemos reconhecer os elementos básicos da narrativa:
O que aconteceu? Acontecimento, fato, situação.
Com quem? Personagem(ns).
Onde? Quando? Como? Espaço, tempo, modo.
Quem está contando? Narrador em 1ª ou 3ª pessoa.

A construção do enredo
Enredo é a sequência de acontecimentos da história. Toda narrativa tem um enredo: o que aconteceu e como aconteceu. O desenvolvimento do enredo é organizado em função de um conflito entre a personagem principal e forças adversárias a ela, pela luta da personagem para realizar seus desejos, projetos, sonhos e objetivos.
A história apresenta um conflito entre o(s) protagonista(s) e os elementos opositores, entre os quais encontramos, muitas vezes, as personagens adversárias ou antagonistas.
Exemplos: herói x vilão, mocinho x bandido.
No entanto, há enumeráveis formas de conflitos. De um modo geral, a personagem está em luta com antagonistas, ou com o mundo, ou com o seu destino, ou consigo mesma. O desenrolar do enredo dá-se pela apresentação e desenvolvimento desse conflito, que se intensifica até o clímax, para se solucionar apenas no desfecho da história.
Partes do enredo
1.       Exposição: situa-se no começo da história, quando em geral se apresentam os personagens, o conflito, o espaço e o tempo em que ocorre a ação.
2.       Complicação: corresponde à parte do enredo em que se desenvolve(m) o(s) conflito(s).
3.       Clímax: é o momento de maior tensão do(s) conflito(s).
4.       Desfecho: é a solução do(s) conflitos(s).

Narrador: a voz que conta história
Narrador de um texto ficcional não é o autor. É uma voz imaginária, escolhida pelo autor de acordo com o tipo de história a ser elaborada.
Podemos distinguir três tipos de narrador:
Narrador-personagem, narrador-observador e narrador-onisciente.


Foco narrativo em 1ª pessoa
narrador-personagem conta na 1ª pessoa a história da qual participa também como personagem.
Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer. Ao mesmo tempo, essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.
Foco narrativo em 3ª pessoa
narrador-observador conta a história do lado de fora, na 3ª pessoa, sem participar das ações. Ele conhece todos os fatos e, por não participar deles, narra com certa neutralidade, apresenta os fatos e os personagens com imparcialidade. Não tem conhecimento íntimo dos personagens nem das ações vivenciadas.
narrador-onisciente conta a história em 3ª pessoa e, às vezes, permite certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Ele conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no íntimo das personagens, conhece suas emoções e pensamentos.
Ele é capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência, em 1ª pessoa. Quando isso acontece, o narrador faz uso do discurso indireto livre.
Enredo linear e enredo não linear
O enredo é linear quando as personagens, o tempo e o espaço são apresentados de maneira lógica e as ações e situações desenvolvem-se cronologicamente, atribuindo à narrativa um começo, meio e fim.
Já o enredo não linear, como o próprio nome revela, desenvolve-se descontinuamente, com saltos, com cortes, com vaivens na sequência da história, com retrospectivas e/ou antecipações e com rupturas do tempo e do espaço em que se desenvolve a ação. O tempo cronológico, dos relógios, mistura-se ao psicológico, da duração das vivências das personagens.
Exercício-Criação de um enredo não linear.
Conte um sonho sem sequência lógica, daqueles que ficam por muito tempo persistindo em nossa memória, apesar de sua estranheza e aparente falta de lógica.
Personagens
Personagens principais: protagonistas x antagonistas
Personagens secundárias: auxiliares ou ajudantes (coadjuvantes)
Os tipos de discurso
Discurso direto: o narrador apresenta a própria personagem falando diretamente, permitindo ao autor mostrar o que acontece em lugar de simplesmente contar.
Lavador de carros, Juarez de Castro, 28 anos, ficou desolado, apontando para os entulhos: “Alá minha frigideira, alá meu escorredor de arroz. Minha lata de pegar água era aquela. Ali meu outro tênis.”
Jornal do Brasil, 29 de maio 1989.

Discurso indireto: o narrador interfere na fala da personagem. Ele conta aos leitores o que a personagem disse, mas conta em 3ª pessoa. As palavras da personagem não são reproduzidas, mas traduzidas na linguagem do narrador.
Dario vinha apressado, o guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Foi escorregando por ela, de costas, sentou-se na calçada, ainda úmida da chuva, e descansou no chão o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no, indagando se não estava se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, mas não se ouviu resposta. Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque.
Dalton Trevisan. Cemitério de elefantes. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1964.

Discurso indireto livre: é uma combinação dos dois anteriores, confundindo as intervenções do narrador com as dos personagens. É uma forma de narrar econômica e dinâmica, pois permite mostrar e contar os fatos a um só tempo.
Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se pudesse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande!... Hei de dar conta deste danisco... Se uma cobra picasse seu Soronho... Tem tanta cascavel nos pastos... Tanta urutu, perto de casa... se uma onça comesse o carreiro, de noite... Um onção grande, da pintada... Que raiva!...
Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção, escutando a conversa de boi Brilhante.
Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1976.
Tempo
Tempo cronológico: dos relógios, objetivamente marcado.
Tempo psicológico: da duração interior das vivências.
Espaço
Espaço exterior: individual e social; pessoal e coletivo.
Espaço interior: subjetivo, psicológico.

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