segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Atividade-Elementos da narrativa.


Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões propostas:

A armadilha
Murilo Rubião

Alexandre Saldanha Ribeiro. Desprezou o elevador e seguiu pela escada, apesar da volumosa mala que carregava e do número de andares a serem vencidos. Dez.
Não demonstrava pressa, porém o seu rosto denunciava a segurança de uma resolução irrevogável. Já no décimo pavimento, meteu-se por um longo corredor, onde a poeira e detritos emprestavam desagradável aspecto aos ladrilhos. Todas as salas encontravam-se fechadas e delas não escapava qualquer ruído que indicasse presença humana.
Parou diante do último escritório e perdeu algum tempo lendo uma frase, escrita a lápis, na parede. Em seguida passou a mala para a mão esquerda e com a direita experimentou a maçaneta, que custou a girar, como se há muito não fosse utilizada. Mesmo assim não conseguiu franquear a porta, cujo madeiramento empenara. Teve que usar o ombro para forçá-la. E o fez com tamanha violência que ela veio abaixo ruidosamente. Não se impressionou. Estava muito seguro de si para dar importância ao barulho que antecedera a sua entrada numa saleta escura, recendendo a mofo. Percorreu com os olhos os móveis, as paredes. Contrariado, deixou escapar uma praga. Quis voltar ao corredor, a fim de recomeçar a busca, quando deu com um biombo. Afastou-o para o lado e encontrou uma porta semicerrada. Empurrou-a. Ia colocar a mala no chão, mas um terror súbito imobilizou-o: sentado diante de uma mesa empoeirada, um homem de cabelos grisalhos, semblante sereno, apontava-lhe um revólver. Conservando a arma na direção do intruso, ordenou-lhe que não se afastasse.
Também a Alexandre não interessava fugir, porque jamais perderia a oportunidade daquele encontro. A sensação de medo fora passageira e logo substituída por outra mais intensa, ao fitar os olhos do velho. Deles emergia uma penosa tonalidade azul.
Naquela sala tudo respirava bolor, denotava extremo desmazelo, inclusive as esgarçadas roupas do seu solitário ocupante:
— Estava à sua espera — disse, com uma voz macia. Alexandre não deu mostras de ter ouvido, fascinado com o olhar do seu interlocutor. Lembrava-lhe a viagem que fizera pelo mar, algumas palavras duras, num vão de escada.
O outro teve que insistir:
— Afinal, você veio.
Subtraído bruscamente às recordações, ele fez um esforço violento para não demonstrar espanto:
— Ah, esperava-me? — Não aguardou resposta e prosseguiu exaltado, como se de repente viesse à tona uma irritação antiga:
— Impossível! Nunca você poderia calcular que eu chegaria hoje, se acabo de desembarcar e ninguém está informado da minha presença na cidade! Você é um farsante, mau farsante. Certamente aplicou sua velha técnica e pôs espias no meu encalço. De outro modo seria difícil descobrir, pois vivo viajando, mudando de lugar e nome.
— Não sabia das suas viagens nem dos seus disfarces.
— Então, como fez para adivinhar a data da minha chegada?
— Nada adivinhei. Apenas esperava a sua vinda. Há dois anos, nesta cadeira, na mesma posição em que me encontro, aguardava-o certo de que você viria.
Por instantes, calaram-se. Preparavam-se para golpes mais fundos ou para desvendar o jogo em que se empenhavam.
Alexandre pensou em tomar a iniciativa do ataque, convencido de que somente assim poderia desfazer a placidez do adversário. Este, entretanto, percebeu-lhe a intenção e antecipou-se:
— Antes que me dirija outras perguntas — e sei que tem muitas a fazer-me — quero saber o que aconteceu com Ema.

— Nada — respondeu, procurando dar à voz um tom despreocupado.
— Nada?
Alexandre percebeu a ironia e seus olhos encheram-se de ódio e humilhação. Tentou revidar com um palavrão. Todavia, a firmeza e a tranqüilidade que iam no rosto do outro venceram-no.
— Abandonou-me — deixou escapar, constrangido pela vergonha. E numa tentativa inútil de demonstrar um resto de altivez, acrescentou:
 — Disso você não sabia!
Um leve clarão passou pelo olhar do homem idoso:
— Calculava, porém desejava ter certeza.
Começava a escurecer. Um silêncio pesado separava-os e ambos volveram para certas reminiscências que, mesmo contra a vontade deles, sempre os ligariam.
O velho guardou a arma. Dos seus lábios desaparecera o sorriso irônico que conservara durante todo o diálogo. Acendeu um cigarro e pensou em formular uma pergunta que, depois, ele julgaria, desnecessária. Alexandre impediu que a fizesse.
Gesticulando, nervoso, aproximara-se da mesa:
— Seu caduco, não tem medo que eu aproveite a ocasião para matá-lo. Quero ver sua coragem, agora, sem o revólver.
— Não, além de desarmado, você não veio aqui para matar-me.
— O que está esperando, então?! — gritou Alexandre. — Mate-me logo!
— Não posso.
— Não pode ou não quer?
— Estou impedido de fazê-lo. Para evitar essa tentação, após tão longa espera, descarreguei toda a carga da arma no teto da sala.
Alexandre olhou para cima e viu o forro crivado de balas. Ficou confuso. Aos poucos, refazendo-se da surpresa, abandonou-se ao desespero. Correu para uma das janelas e tentou atirar-se através dela. Não a atravessou. Bateu com a cabeça numa fina malha metálica e caiu desmaiado no chão.
Ao levantar-se, viu que o velho acabara de fechar a porta e, por baixo dela, iria jogar a chave.
Lançou-se na direção dele, disposto a impedi-lo. Era tarde. O outro já concluíra seu intento e divertia-se com o pânico que se apossara do adversário:
— Eu esperava que você tentaria o suicídio e tomei precaução de colocar telas de aço nas janelas.
A fúria de Alexandre chegara ao auge:
— Arrombarei a porta. Jamais me prenderão aqui!
— Inútil. Se tivesse reparado nela, saberia que também é de aço. Troquei a antiga por esta.
— Gritarei, berrarei!
— Não lhe acudirão. Ninguém mais vem a este prédio. Despedi os empregados, despejei os inquilinos.
E concluiu, a voz baixa, como se falasse apenas para si mesmo:
— Aqui ficaremos: um ano, dez, cem ou mil anos.
O texto acima foi extraído do livro "Para Gostar de Ler — Vol. 9 — Contos", Editora Ática — São Paulo, 1984, pág. 17.

1. Sobre o foco narrativo:
a) O narrador do texto também é personagem? Justifique a sua resposta.
b) O texto apresenta narrador-onisciente ou narrador-observador? Explique e exemplifique.
2. Identifique o protagonista e o antagonista do texto.
3. Que fala do antagonista enfatiza a estagnação temporal que auxilia a produzir o efeito de imobilidade da história?
4. Onde se passa a narrativa? Quais são as características do local?
5. Qual é o clímax da história? Justifique a sua resposta.
6. O enredo é linear ou não linear? Explique.
7. O tempo da narrativa é cronológico ou psicológico. Explique.
8. Qual discurso é predominante no texto? Dê exemplos.
9. Procure o significado das palavras destacadas no texto.
10. Qual é o desfecho da história?





segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A MULHER DO VIZINHO


A mulher do vizinho

Fernando Sabino


Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.


O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.


O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fabrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:


— O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.


Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:


— Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?


O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.


— Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não e gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?


Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:


— Da ativa, minha senhora?


E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:


— Da ativa, Motinha! Sai dessa...


Texto extraído do livro "Fernando Sabino - Obra Reunida - Vol.01", Editora Nova Aguiar - Rio de Janeiro, 1996, pág. 872
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UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA


  UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA

                                                            (Cidades Mortas, Monteiro Lobato)

Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua Itaoca.
 - Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons – agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando…
João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
- É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada…
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!…
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.
- Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
- Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
- Mas, como? Agora que você está delegado?
- Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu.

CLARISSA-ÉRICO VERÍSSIMO


CLARISSA-ÉRICO VERÍSSIMO

Clarissa contempla a menina contente que está no fundo do espelho, tão contente que nem pode deixar de sorrir. E por quê? Ora, a vida é tão boa... O sol salta pela janela, como um companheiro brincalhão e põe as cores do arco-íris nas facetas do espelho. Lá fora os jardins estão floridos. Mamãe escreveu dizendo que tudo na fazenda vai bem. A vaca brasina (a querida de Clarissa) continua gorda, dando muito leite. Primo Vasco parece que está criando juízo. Papai melhorou da asma.
O sorriso de Clarissa se alarga. O da menina do fundo do espelho também. Passa a mão pelo rosto. Bonita? Sim. Já lhe disseram. Não diretamente, mas ela ouviu, percebeu, adivinhou. Foi na rua. Num domingo. Ia para a igreja, contente, cantarolando baixinho, com vontade de pular. Levava um vestido branco estampado com florinhas amarelas e azuis. A uma esquina estavam dois rapazes. Quando ela passou, cochicharam, arregalaram os olhos e examinaram-na de cima a baixo. Santo Deus, que sensação esquisita! Nem agradável nem desagradável. Esquisita. De frio e de calor ao mesmo tempo. De vergonha e de contentamento. Ficou até desajeitada: trocou as pernas, perdeu o compasso da marcha. Baixando os olhos, fingiu que procurava alguma coisa entre as páginas do livro de reza. E sem levantar a cabeça passou pelos rapazes.
Ia tonta, mas percebeu que um deles dizia baixinho uma palavra encantada de que ela só pôde ouvir com clareza as últimas sílabas:- ...nita!...nita? Não havia a menor dúvida. Bonita! Bo-ni-ta! Um moço tinha dito aquilo. Ela ouvira. Bonita.
(A menina do espelho está achando tudo muito engraçado.) Dentro de pouco tempo tudo vai mudar. Mamãe já prometeu em carta: Quando fizeres catorze anos eu te dou licença para botar sapato de salto alto. Tudo então ficará diferente. Ela deixará as bonecas. Será uma moça, uma senhorita que os rapazes na rua cumprimentarão atenciosamente, tirando o chapéu. E ela responderá com um aceno de cabeça, e um leve sorriso. Passará serenamente, e eles ficarão dizendo elogios...- ... líssima.Sim. Belíssima. E por que não? Assim como está agora de sandálias, de vestidinho simples, pode ser apenas- Bo-ni-ti-nha. De sapatos de salto alto,vestido de seda, será... líssima. Belíssima. Se Deus quiser e a Virgem Santíssima. Amém!

A narração



A narração
Toda narrativa tem um narrador: aquele que conta a história. O narrador pode ser de dois tipos: narrador de 1ª ou 3ª pessoa.
A narração, além de ser uma das mais importantes possibilidades de linguagem, é também uma das práticas mais comuns de nossa vida. A narração associa nossa observação do mundo com nossa existência, nossa memória e nossa imaginação.

Elementos básicos da narrativa
Narrativa-enredo(acontecimentos reais e/ou imaginários) + personagens(quem vive os acontecimentos).
Narrador-quem narra os acontecimentos.

Veja como podemos reconhecer os elementos básicos da narrativa:
O que aconteceu? Acontecimento, fato, situação.
Com quem? Personagem(ns).
Onde? Quando? Como? Espaço, tempo, modo.
Quem está contando? Narrador em 1ª ou 3ª pessoa.

A construção do enredo
Enredo é a sequência de acontecimentos da história. Toda narrativa tem um enredo: o que aconteceu e como aconteceu. O desenvolvimento do enredo é organizado em função de um conflito entre a personagem principal e forças adversárias a ela, pela luta da personagem para realizar seus desejos, projetos, sonhos e objetivos.
A história apresenta um conflito entre o(s) protagonista(s) e os elementos opositores, entre os quais encontramos, muitas vezes, as personagens adversárias ou antagonistas.
Exemplos: herói x vilão, mocinho x bandido.
No entanto, há enumeráveis formas de conflitos. De um modo geral, a personagem está em luta com antagonistas, ou com o mundo, ou com o seu destino, ou consigo mesma. O desenrolar do enredo dá-se pela apresentação e desenvolvimento desse conflito, que se intensifica até o clímax, para se solucionar apenas no desfecho da história.
Partes do enredo
1.       Exposição: situa-se no começo da história, quando em geral se apresentam os personagens, o conflito, o espaço e o tempo em que ocorre a ação.
2.       Complicação: corresponde à parte do enredo em que se desenvolve(m) o(s) conflito(s).
3.       Clímax: é o momento de maior tensão do(s) conflito(s).
4.       Desfecho: é a solução do(s) conflitos(s).

Narrador: a voz que conta história
Narrador de um texto ficcional não é o autor. É uma voz imaginária, escolhida pelo autor de acordo com o tipo de história a ser elaborada.
Podemos distinguir três tipos de narrador:
Narrador-personagem, narrador-observador e narrador-onisciente.


Foco narrativo em 1ª pessoa
narrador-personagem conta na 1ª pessoa a história da qual participa também como personagem.
Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer. Ao mesmo tempo, essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.
Foco narrativo em 3ª pessoa
narrador-observador conta a história do lado de fora, na 3ª pessoa, sem participar das ações. Ele conhece todos os fatos e, por não participar deles, narra com certa neutralidade, apresenta os fatos e os personagens com imparcialidade. Não tem conhecimento íntimo dos personagens nem das ações vivenciadas.
narrador-onisciente conta a história em 3ª pessoa e, às vezes, permite certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Ele conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no íntimo das personagens, conhece suas emoções e pensamentos.
Ele é capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência, em 1ª pessoa. Quando isso acontece, o narrador faz uso do discurso indireto livre.
Enredo linear e enredo não linear
O enredo é linear quando as personagens, o tempo e o espaço são apresentados de maneira lógica e as ações e situações desenvolvem-se cronologicamente, atribuindo à narrativa um começo, meio e fim.
Já o enredo não linear, como o próprio nome revela, desenvolve-se descontinuamente, com saltos, com cortes, com vaivens na sequência da história, com retrospectivas e/ou antecipações e com rupturas do tempo e do espaço em que se desenvolve a ação. O tempo cronológico, dos relógios, mistura-se ao psicológico, da duração das vivências das personagens.
Exercício-Criação de um enredo não linear.
Conte um sonho sem sequência lógica, daqueles que ficam por muito tempo persistindo em nossa memória, apesar de sua estranheza e aparente falta de lógica.
Personagens
Personagens principais: protagonistas x antagonistas
Personagens secundárias: auxiliares ou ajudantes (coadjuvantes)
Os tipos de discurso
Discurso direto: o narrador apresenta a própria personagem falando diretamente, permitindo ao autor mostrar o que acontece em lugar de simplesmente contar.
Lavador de carros, Juarez de Castro, 28 anos, ficou desolado, apontando para os entulhos: “Alá minha frigideira, alá meu escorredor de arroz. Minha lata de pegar água era aquela. Ali meu outro tênis.”
Jornal do Brasil, 29 de maio 1989.

Discurso indireto: o narrador interfere na fala da personagem. Ele conta aos leitores o que a personagem disse, mas conta em 3ª pessoa. As palavras da personagem não são reproduzidas, mas traduzidas na linguagem do narrador.
Dario vinha apressado, o guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Foi escorregando por ela, de costas, sentou-se na calçada, ainda úmida da chuva, e descansou no chão o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no, indagando se não estava se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, mas não se ouviu resposta. Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque.
Dalton Trevisan. Cemitério de elefantes. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1964.

Discurso indireto livre: é uma combinação dos dois anteriores, confundindo as intervenções do narrador com as dos personagens. É uma forma de narrar econômica e dinâmica, pois permite mostrar e contar os fatos a um só tempo.
Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se pudesse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande!... Hei de dar conta deste danisco... Se uma cobra picasse seu Soronho... Tem tanta cascavel nos pastos... Tanta urutu, perto de casa... se uma onça comesse o carreiro, de noite... Um onção grande, da pintada... Que raiva!...
Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção, escutando a conversa de boi Brilhante.
Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1976.
Tempo
Tempo cronológico: dos relógios, objetivamente marcado.
Tempo psicológico: da duração interior das vivências.
Espaço
Espaço exterior: individual e social; pessoal e coletivo.
Espaço interior: subjetivo, psicológico.